domingo

11ª telha

Do meu ponto de vista as repetições são um pénis desenhado em alfarrábio, sem surpresas.
Os homens aparecem normalmente aos pares.
(cala-te, mulher descarada, que aos pares vêm os cornos)
Depois ou são insanos ou insossos.
Pão ázimo que fica sem toque no palato.
(cala-te, mulher inconformada, que nunca estás bem com o estado sem estado)
Pensei agora nos sempre presentes e nos sempre ausentes.
A alternância também pode ser uma forma de vida.
(cala-te, mulher exagerada, mais tarde ou mais cedo acabarás até por renegar o teu próprio berço)

10ª telha


Há quem veja a verdade como uma ilha, com fronteiras. Para mim é mais um poço com paredes altas.

sexta-feira

9ª telha


Envelhecer não são rugas nem aniversários completados. É quando se dá conta de que os dias crescem e depois diminuem e voltam a encher e tornam a minguar. Envelhecer é esboroar por dentro e nisso não se consegue fintar o tempo.

quinta-feira

8ª telha


Pensar que se conhece alguém é como julgar que se pode espirrar de olhos abertos.

7ª telha


Farto-me de viajar por terras oferecidas em documentários onde sei que nunca porei os pés. É a minha forma de me vingar e ao mesmo tempo engolir humildemente esta consciência do quanto somos limitados.

segunda-feira

6ª telha


Pérolas raras só as lágrimas de contentamento.
As que melhor conheço são as de todos os dias.
E essas são engolidas, sem lhes sentirem o gosto, sem lhe pesaram o valor, pelos porcos que teimo em alimentar.

domingo

5ª telha


Boto esperança em muitos dias.
Madrugo contra a natura que me fez ave de dormir até o sol estar no pino.
Abro os olhos e a sacudir a remela clamo pela esperança como náufrago por tábua.

Boto esperança na humanidade.
Abraço o mundo e a vida que me pariu para ver as grandes maravilhas da criação.
E da sina sorteada cabem-me sempre os calhaus.

4ª telha


Sentenças que dito. Bocadada de pão que comi e não era o meu.
Mania esta de meter a mão na massa que nunca me há-de saciar.

Não me hei-de safar tão depressa desta azia e o fermento há-de continuar a levedar.

3ª telha


Há dias em que pego numa borracha e na tela apago o sol.
Não porque não idolatre o poder lendário do sol.
Não porque não sinta em todo o ser a falta anímica do sol.
Não porque consiga viver sem sol, o meu sol.

Simplesmente porque há dias em que a minha própria sombra me caustica até por dentro.

2ª telha

Não sei que se tem contra o silêncio.
É macio. Forte.
Enrola cada prega da banalidade e esmaga-a.
No silêncio nunca há o antes visto.
Economia confortável do redundante
Que se veste e se aconchega.
..................

Não me incomodem até me apetecer de novo o ribombar dum trovão.

1ª telha


Paragens no tempo são como lugares sem eira.
De vidro é o meu. Telhado é do que falo.
Mas há outros. Com beiras.
[Falo dos meus e miro os outros.]
Não há abrigo que albergue quando a telha resvalou.
Cacos que se juntam ou ignoram.
E vou-me revendo neles.
Telhados.
[Aqui são tão somente telhas em tela.]